A parede da escada abrigará a maioria dos quadros da casa, formando um grande quebra-cabeças de presentes e aquisições de um colecionador acidental. Difícil, assim como na hora de desenhar uma página de quadrinhos, é decidir por onde começar. Como compor esse mosaico fugindo da referência mofada do casarão assombrado das avós de outros tempos?
Uma parede vazia é uma história que ainda não começou. A leitura dessa história vai depender do caminho do olhar de quem passar pela escada, se começar por cima e for descendo, ou se vier de baixo e fizer o contrário, ou ainda se começar pelo quadro com as cores mais chamativas e for expandindo o olhar para os quadros que vão circundando o ponto de partida.
Fotografei todos os quadros e pretendo fazer estudos das possíveis combinações no Photoshop. Uma parte do planejamento é deixar espaço para os quadros futuros que eu ainda não adquiri, ou pensar nos poucos quadros que fujam desse planejamento da escada e acabem pendurados na parede de outra parte da casa.
Em outro cômodo, eu também planejo como preencher as paredes, mas aqui, ao invés dos quadros, vão as estantes e os livros.
Talvez seja a proximidade com o processo de composição da página desenhada que alimente meu interesse por pensar na disposição dos quadros, das estantes e dos livros nas paredes brancas como uma folha de papel. As qualidades narrativas das paredes me agradam, e assim consigo enxergar o valor em passar um tempo planejando a arrumação da casa ao invés de ficar trancafiado no estúdio desenhando.
Consegui começar o dia desenhando.
O desenho do caderno ganha mais camadas com a frase que o acompanha, abandonando a mera função de exercício de observação e adquirindo significados poéticos. Minha vontade de desenvolver esse jogo entre os desenhos e as palavras, tão importante nos Quadrinhos (e ao mesmo tempo tão pouco aprofundado), sempre me leva para as bandas da literatura e da poesia, onde a palavra tem força, derruba castelos e derrota dragões. Nesses momentos, minha mente voa para o centro histórico da cidadezinha no litoral do Rio de Janeiro onde acontece meu festival literário favorito.
Cogitei em alguns momentos do ano ir para Paraty nessa semana para participar da FLIP, ver palestras de autores que eu conheço ou admiro, descobrir novos livros, novas vozes, novos pensamentos, mas acabei priorizando essa outra história que vai se construindo dentro das paredes aqui de casa onde as novas cores transmitem emoções, onde os quadros nas paredes contam histórias e refletem escolhas, e onde as prateleiras oferecem morada para os livros que aquecem minha alma e para os livros que eu ainda vou descobrir (muitos deles em futuras edições da FLIP, provavelmente). Me consola saber que posso acompanhar as mesas da programação oficial pelo YouTube do festival. As frutíferas conversas nos bares e restaurantes que se seguem depois de cada palestra ficam para outra ocasião.
Cuidem uns dos outros, com gentileza e curiosidade.
Pa-ZOW!
Fábio Moon
Base Lunar, São Paulo
11 de Outubro de 2024
A primeira vez que eu te vi, foi quando peguei um autógrafo em Paraty, na Flip, acho que o ano era 2011? Não tenho certeza. Infelizmente vou passar a desse ano também, outros trabalhos que se colocaram à frente. Espero ir no próximo. Abraços! ps, é muito bom acompanhar o teu processo por aqui!