“Faz frio na praia. A placa, fincada na areia, aponta em alerta para a ilha que, preocupada, solta fumaça.”
Recebi essa mensagem da biblioteca ao final do dia de ontem:
“Tivemos um total de 119 inscrições com 93 formulários respondidos. Vou organizar tudo para te encaminhar amanhã, ok?”
A partir de hoje, tenho uma semana para analizar todas as inscrições e fazer a seleção dos participantes do Laboratório de produção de Quadrinhos, que acontecerá de Agosto a Dezembro na biblioteca do parque Villa-Lobos. Esse processo de seleção, assim como preparar a aula inaugural do curso, são atividades que não preciso fazer dentro do meu estúdio, sentado à prancheta, então fugi para a praia para respirar outros ares e vislumbrar outros horizontes.
As inscrições foram variadas, equilibradas na quantidade de homens e mulheres (não tinha nenhuma pergunta sobre gênero ou orientação na ficha de inscrição, vamos ver como as pessoas se identificam quando o curso começar), e a maioria tem entre 20 e 40 anos. As adolescentes se sobrepõem aos meninos.
Algumas pessoas se inscreveram mais de uma vez.
Tenho uma semana para fazer essa seleção, assim como deixar a lista de espera pronta para as eventuais desistências, mas não quero deixar pra última hora.
Vai dar mais trabalho do que eu imaginei.
Mesmo assim…
Durante meia hora, parei o processo de seleção e escrevi o roteiro de uma história em Quadrinhos de uma página. Escrevi pra um amigo, algo que quase nunca faço. Na verdade, só cheguei perto dessa experiência uma vez, uns vinte anos atrás, quando eu e o Bá pensamos numa história e o Bá a escreveu pra um amigo nosso, e o nosso amigo daquela vez acabou nunca desenhando a história (eu e o Bá acabamos desenhando cada um uma versão do roteiro, e as duas versões foram publicadas no Brasil no nosso livro 10 Pãezinhos - Crítica, e no exterior no De:Tales).
Histórias de uma página são gostosas de escrever, existe um desafio nessa síntese das micro narrativas – algo que será proposto em vários módulos desse curso que estou desenvolvendo.
Ajudou nessa hora que eu passei dois dias dessa semana babando sobre várias novas histórias curtas do Mignola, e acabei a leitura incrivelmente inspirado a colocar pequenas narrativas no papel. Outro incentivo, algo que imagino ser muito comum nos escritores, foi o fato de eu gostar muito do estilo de desenho do meu amigo para quem que mandei o roteiro, e eu estar muito curioso pra ver como ele desenharia uma história escrita por mim.
Quem sabe essa experiência me deixa com mais vontade de colaborar com outros artistas.
Cuidem uns dos outros, com gentileza e curiosidade.
Pa-ZOW!
Fábio Moon
Base Lunar, litoral de São Paulo
19 de Julho de 2024