No meu crescente abandono das redes sociais, hoje em dia abro o Facebook somente pra ver atualizações de alguns amigos e amigas que ainda usam a plataforma com alguma frequência, e pra checar a aba das “lembranças”, que me mostra o que eu compartilhei na internet naquele dia em particular com o passar dos anos. Fico alguns minutos nessa viagem ao passado, relembrando momentos diferentes da minha vida, no que eu estava trabalhando, onde eu estava viajando ao redor do mundo. Nessa semana que passou, a lembrança que mais me chamou a atenção veio de 2020, no começo da pandemia, quando participei da brincadeira/desafio online de desenhar seis personagens conhecidos. Desenhos de fã de personagens que não criei. Pedi online sugestões aos meus fãs, e eles sugeriram tantos que não consegui escolher somente seis. Agora, cinco anos depois, fiquei olhando para cada desenho tentando imaginar o que teria me motivado a escolher cada um: A incerteza da pandemia, esse medo de nunca mais ver ninguém, uma saudade de pessoas que você conhece bem, ou conhece somente um pouco mas fica receoso de não ter outra chance de conhecer melhor. Cinco personagens foram criados por pessoas que eu conheço, e esses desenhos provavelmente foram preces ao desconhecido para um dia encontrá-las novamente. As personagens que sobram foram criadas há muito tempo por autores que nunca conheci, e provavelmente eu só escolhi por achar que seriam legais de desenhar naquele dia.
Mencionei na última carta em português que ia à festa de 25 anos da Coala Filmes. Como eu esperava, eles tinham alguns bonecos de suas animações em exposição e eu tirei as fotos acima, justamente da Rê Bordosa do Angeli. Eu devo ter desenhado a Rê Bordosa quando era criança, nos anos 80, na época em que a Chiclete com Banana estava sendo publicada, mas depois disso acho que esse desenho de 2020 foi a primeira vez na minha vida adulta (na minha vida de Quadrinhista) que a retratei, e somente no ano passado, para divulgar a festa de comemoração de 40 anos da personagem, eu a desenharia novamente.
Fãs mútuos
Na pausa do café na tarde de quinta, eu e o Bá vimos uma mensagem do Paul Pope nos avisando que o Jon Spencer estava em São Paulo e queria saber se eu e o Bá podíamos ir ao show dele. Eu estava acabando a arte-final de uma página, e essa sensação de trabalho cumprido que vem com o término de qualquer fase da produção merecia uma comemoração, então o convite veio na hora certa. Acabei a página, peguei o metrô e fui para o SESC av. Paulista. No camarim, conheci a nova banda do Jon um pouco antes do show, tomei um café e ficamos de conversar mais depois da apresentação. Além de ficar chacoalhando na platéia com as músicas, hipnotizado pela energia dos músicos em sincronia no palco, fiquei observando o design das luzes do show, os contrastes, as combinações, os climas, e fiquei pensando em como traduzir isso nas cores para os desenhos que estou fazendo para a nova banda do André Frateschi, a Undo.
Conheci o Jon Spencer em 2009, porque ele é fã de Quadrinhos. Curtia o Casanova (o gibi que eu e o Bá fazemos com o Matt Fraction), e em 2009 veio a São Paulo tocar no Studio SP com sua banda Heavy Trash e nos convidou pro show.
Eu nem lembrava quanto tempo fazia que esse show no Studio SP aconteceu, mas o Bá tinha mais lembranças: lembrava que uma amiga dele, Caroline Bittencourt, fotógrafa, estava na balada trabalhando e tinha tirado fotos daquele show, e tirou uma foto nossa. Pela foto, ficava fácil saber em que ano foi.
(pra quem quiser saber mais sobre essa época das cabeças carecas, sugiro assistir nosso documentário Vou Viver de HQ, disponível na Globoplay)
Depois do show, voltei para o camarim e o papo ficou entre quadrinhos e shows, ou entre as semelhanças e diferenças da dinâmica com o público. Nos despedimos quando o SESC precisava fechar, e durante a viagem de volta no metrô fiquei pensando como, na manhã daquele dia, que começou cedo com a visita à escola Pioneiro pra participar da discussão com os alunos do clube de leitura daquele mês, que leram nossa adaptação do Dois Irmãos (visita inusitada ao descobrirmos na entrada da escola que ela é uma escola de origem japonesa, e que sua biblioteca tem muitos Quadrinhos e Mangás, e que os alunos são muito estimulados a ler Quadrinhos), eu não fazia ideia que nossa noite terminaria com um show de Rock’n’Roll.
Cuidem uns dos outros, com gentileza e curiosidade.
Pa-ZOW!
Fábio Moon
Base Lunar, São Paulo
4 de Abril de 2025
Te vi ontem no show! Fiquei com vergonha de falar com você hehe