Fugi para a praia por alguns dias, pra colocar o pé no mar gelado, sentir a brisa e a maresia, observar os pássaros (gaivotas, quero-queros, sabiás, urubus), me perder no barulho das ondas, quebrando cada vez mais perto da areia à medida que a maré sobe e, mergulhado nessa realidade diferente do meu dia-a-dia caoticamente urbano, pensar no resto do ano.
Um dia frio resulta numa praia vazia e, nesse esvaziamento, encontro uma paz exterior que me penetra. Abro meu laptop e continuo colorindo a capa que preciso entregar na segunda me sentindo dentro de uma concha, rodeado pelo barulho do mar. Muitos aspectos do meu trabalho, em seu caráter mais imersivo, me remetem a essa figura molusca que vive isolada dentro do seu próprio mundo.
A semana está terminando e assuntos urgem no final de semana, me arrancando de dentro da concha e me motivando a me expor.
uma onda mais gentil
As eleições do dia 6 de Outubro estão aí e eu resolvi ajudar a divulgar a candidatura a vereadora da Keit Lima. Fui numa roda de conversas com ela para entender qual o seu projeto e saí desse encontro bem impressionado, e o meu modo de ajudar sua candidatura é declarar meu apoio e colocar o link para as pessoas poderem se informar sobre seus projetos.
Ninguém é obrigado a declarar seu voto, nem em concordar em qual candidato você gosta mais. Importante é refletir (internamente, que seja) sobre o que esse candidato acredita, o que ele realmente quer fazer, e o que ele simboliza, e o quanto esse candidato te representa. Não adianta reclamar da política se não fazemos nossa parte, e nossa parte é escolher nossos representantes com responsabilidade. Uma escolha consciente não acaba quando a gente aperta o botão e confirma o voto, mas continua durante todo o mandato e vai repercutindo para além desses ciclos de quatro anos.
o mar é mágico
Gosto de pensar na minha relação pessoal com os Quadrinhos quando aceito fazer uma capa variante. Em Novembro, começa a sair nos Estados Unidos essa nova série, “Welcome to Maynard”, e foi o Fábio do final dos anos 90 e começo dos anos 2000, esse jovem aspirante a Quadrinista, que leu Starman, Leave it to Chance e WildCATS escritos pelo James Robinson, que ficou entusiasmado com o convite e aceitou fazer uma capa variante para essa nova série. Eu e o Bá cruzamos com o James Robinson anos atrás num jantar (ou numa convenção em San Diego, ou numa convenção em Portland) e falamos sobre nosso carinho pelos gibis que ele escreveu. Nunca encontrei o J. Bone pessoalmente, mas conheci seu trabalho numa colaboração com o Paul Pope no começo dos anos 2000 nas páginas do THB (publicação autoral independente do Paul Pope).
Esse novo gibi tem um elemento mágico que eu acho que vai agradar quem gosta do trabalho dos autores, além de quem gosta de histórias de detetive.
Achei interessante a coincidência de que eu colori essa capa na praia num final de semana semelhante a esse onde novamente eu vim para o litoral e colorir uma capa me mantém sentado dentro de casa, ouvindo o som do mar ao fundo.
Cuidem uns dos outros, com gentileza e curiosidade.
Pa-ZOW!
Fábio Moon
Base Lunar à beira-mar, litoral norte de São Paulo
4 de Outubro de 2024