Desenhar não sai de moda
mas mesmo aquele modelito básico precisa da dose certa de personalidade.
“Quer tirar uma foto, pra guardar com carinho e calorzinho na memória? Gostar dessa pose não adianta nada porque você não só vai apagar esse quadrinho, como vai mudar toda a composição.”
Esse tipo de conversa acontece muito por aqui no estúdio.
Não gosto dos desenhos acima. Foram feitos em cima de fotos, e minha intenção era estudar essas poses e entender como o corpo dobra, e até aí tudo bem, missão cumprida, mas falta personalidade nesses traços, falta estilo. Nada nessas duas figuras sentadas me diz “esse é um desenho do Fábio Moon”.
Esse é um desenho do Fábio Moon
Na edição de Dezembro de 2011 da revista Elle, eu colaborei com o fotógrafo Fabio Bartelt no ensaio de moda central da revista, desenhando por cima das fotos da modelo Thairine Garcia. Foi um dos meus flertes mais prazeirosos com o universo da moda e, ao contrário dos estudos no começo dessa carta, o forte desses desenhos é o meu traço, o meu estilo, o meu olhar traduzido nas pinceladas grossas e expressivas.
exercício de volta ao passado
Em 2005, eu e o Bá demos cursos de Quadrinhos em CEUs aqui de São Paulo pra crianças e adolescentes. Talvez pensando nisso, fiz alguns exercícios sobre a estrutura básica dos Quadrinhos no nosso finado blog naquela época (sim, visitei o Wayback Machine de novo) usando basicamente hominhos de palitinhos pra mostrar que o mais importante numa história em quadrinhos não é saber desenhar, mas sim como compor imagens e palavras. Foi o primeiro curso que elaboramos onde os alunos podiam nunca ter feito nenhuma aula de desenho na vida, e nesse sentido o resultado dos exercícios propostos era muito mais surpreendente do que nos nossos cursos mais especializados, que ensinavam (e exigiam) um domínio maior do desenho (cursos de contraste e preto e branco, ou de arte-final com pincel, ou mesmo o curso de desenho de modelo-vivo), pois esses alunos que nunca trabalharam o desenho também não tinham, na sua maioria, nenhum dos vícios de quem vai desenhar porque é fã de Quadrinhos, então ninguém estava lá tentando copiar o estilo do seu desenhista favorito, ou achando que rachura é mais importante do que a história
Reproduzo abaixo os 6 primeiros exercícios, feitos em Setembro de 2005. Semana que vem mando o sétimo, onde me empolguei e fiz uma história de várias páginas.
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Ninguém nasce sabendo. Todo mundo precisa aprender. Seja o que for, você só sabe se aprender, mesmo que tenha de aprender sozinho. Até quando você nasce, o médico te dá um tapinha para você chorar e aprender a respirar.
3
Quando eu era garoto, lia todos os gibis da banca. TODOS. Adorava todas as histórias, tinha mil idéias, queria contar todos os tipos de histórias. A cada semana, começava umas três histórias diferentes.
No mesmo período que lia cinco gibis, conseguia desenhar UMA página. Aí, ficava pensando:
"Vou desenhar a outra página do meu épico de 300 páginas, ou vou ler mais uns cinco gibis?"
Quando eu era moleque, não teminei nehuma dessas histórias que comecei, porque o tempo do fã é muito diferente do tempo do profissional.
O fã dedica aos quadrinhos uma sentada.
O profissional deidca aos quadrinhos uma vida inteira.
4
5
E as histórias continuam. Mesmo que os personagens mudem, mesmo que elas acabem, elas sempre continuam.
Quando as lemos novamente, elas continuam.
Quando nos lembramos delas, elas até continuam com algumas mudanças, pois a história que lembramos nunca é completamente igual à que lemos.
Quando as contamos para outras pessoas, pois temos nossas próprias palavras para contar até as histórias que não escrevemos, não criamos, não vivemos.
6
É importante para toda história ter um fim. Mesmo que ela não acabe, precisa do fim. Toda história já começa com fim, não um, mas vários, um na cabeça de cada leitor que começa a ler já pensando como vai terminar. Todo mundo gosta de se imaginar capaz de descobrir o fim de uma história. A vitória pessoal se você acerta pode ser até melhor que a surpresa satisfatória de ter errado e do fim ser melhor que o que você imaginou.
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Cuidem uns dos outros, com gentileza e curiosidade.
Pa-ZOW!
Fábio Moon
Base Lunar, São Paulo
16 de Maio de 2025
ah, Fábio! Compila essas páginas em um trabalho! Estou tentando adaptar um roteiro pra HQ e aprendi muito mais com elas do que com alguns livros que li. Parabéns, sou fã!
porque en es dios