Sobra na noite o silêncio que inspira olhares.
Olhares de olhos que brilham e, no escuro, se encontram.
Vira e mexe, as lembranças do Facebook me mostram algo que eu escrevi que ficou lá, largado, na timeline de anos colocando pensamentos e rascunhos nas redes sociais. A frase acima veio de uma dessas lembranças, escrita em 2 de Maio de 2011. Num misto de desgosto com o comportamento superficial estimulado pelas redes sociais junto a uma produção diferente da que o algoritmo coloca em destaque, fui lentamente me afastando das redes sociais, embora meus canais em todas elas continue existindo e eu passe algum tempo (tempo demais, muitas vezes) todas as semanas passeando pela internet tentando entender por que eu colocava tanta coisa em todos esses canais diferentes, e como eu buscava inspiração numa produção direcionada à internet que hoje em dia não tem o mesmo efeito sobre mim.
Resolvi durante o café da manhã, enquanto passeava pelas lembranças do Facebook, colocar essa frase junto com um desenho, sugerindo uma cena que, por sua vez, sugere fazer parte de uma história maior. Quem sabe algumas dessas sugestões não impulsionem uma história a sair do papel.
Quanto às redes sociais, elas continuam lá, e meus canais estão, na sua grande maioria, abandonados. Tumblr, Pinterest, Flickr, YouTube, twitter, Facebook (páginas pessoal, da dupla, do Daytripper, do Dois Irmãos, dos cursos) Instagram (o que continua mais ativo, embora sem o entusiasmo de outrora), os recentes Blue Sky e Threads (onde me falta energia para engajar com qualquer fio de discussão), Tik Tok, Twitch. Pra que tanto tempo alimentando esse mundo virtual? Pra que se dividir em tantas frentes? Pra que diluir seu tempo?
Numa semana afastado das redes sociais, vi o céu nascer no mar três dias, e todo dia foi diferente, as cores, o cheiro da maresia, a brisa. Vi o pôr do Sol ao som de ondas se quebrando nas pedras no final da praia, vi gaivotas indiferentes à presença de humanos, mas preocupadas com o urubu que se impunha quando um peixe morto aparecia na praia. Vi pedras empilhadas me fazendo acreditar na nossa capacidade de produzir em harmonia com a natureza. Vi a lua cheia rosa.
Numa semana afastado das redes sociais, li 150 páginas de um livro, envolvido pela história de dois irmãos gêmeos crescendo nessa aventura de serem cada um, um. São moleques que, cada um a seu modo, dão trabalho na escola, impulsionando reações dos pais e educadores. Encontrei mais compaixão nos personagens do livro em relação aos erros das crianças fictícias do que na vida real, onde as redes sociais que eu continuo tentando abandonar estão sempre prontas a engessar em pessoas falíveis papeis de vilões para culpar, vilões irrecuperáveis, ao invés de tentar se debruçar sobre problemas com calma, empatia e coração aberto para continuar aprendendo sempre (porque o mundo está em constante mudança, nós sempre erramos em algum momento, e não dá pra achar que você tem todas as respostas o tempo todo).
Durante anos, encontrei nas redes sociais uma maneira de me aproximar de outras pessoas, seja porque a produção dos livros demorava demais e eu tinha medo de ser esquecido durante esse período, seja porque outros autores ou leitores estavam em outra cidade, outro estado, outro país. A internet veio para nos conectar, para nos mostrar como as possibilidades são muitas, mas esse movimento polarizador que cresce muito tem tornado a internet, que costumava ser uma janela para a grandeza da vida, numa janela para a pequenez da alma.
Prefiro um abraço, um toque de mãos, uma troca de olhares.
Cuidem uns dos outros, com gentileza e curiosidade.
Pa-ZOW!
Fábio Moon
Base Lunar, São Paulo
3 de Maio de 2024