Tenho passado os dias com a cabeça longe. Alguns pensamentos me atormentam, outros são encorajadores. Há ainda motivo para se inspirar, e meu olhar para o velho continente nessa semana vem acompanhado de orgulho pelo Quadrinho nacional.
Na semana que vem acontece mais uma edição do Festival de la Bande Dessinée d’Angoulême, um dos maiores e mais tradicionais festivais de Quadrinhos do mundo. O maior da França, com certeza, que é um país que respira Quadrinhos (todo mundo lê, todo dia os veículos de comunicação reportam alguma notícia de Quadrinhos, e as obras e seus autores são levados a sério). O festival, como vários outros, ajuda muito na divulgação dos Quadrinhos publicados em francês, pois coloca frente à frente autores e leitores, e a entrega do mais tradicional prêmio do mercado francês, o Fauve, acontece durante o festival e aumenta em muito a visibilidade e curiosidade não só dos livros premiados, como também dos indicados em cada categoria.
Na edição desse ano, um autor brasileiro faz parte da seleção oficial do Fauve. É o Luckas Iohanathan, de Mossoró, que publicou seu álbum “Como Pedra” por lá pela editora Ilatina. Animado com a indicação, e também por ter ganho o prêmio Jabuti do ano passado na categoria Quadrinhos, Luckas está embarcando para a França para participar do festival. “Bonne chance, Luckas”, como dizem os franceses. Leve roupas para frio, vai precisar.
Outra brasileira está por lá, desbravando o mercado francês por outro caminho. A Cecilia Marins está fazendo uma residência artística na Maison des Auteurs, que fica na cidade de Angoulême, produzindo quadrinhos durante essa sua estava e participando de alguns eventos locais, como o festival. Ela não é a primeira brasileira que se mudou para esse vilarejo francês durante um período para participar do mercado internacional, mas um diferencial que ela trouxe nesses tempos de newsletters é registrar sua experiência em cartinhas na sua newsletter “Cecilia À Francesa”. É um relato bem completo, vale as leituras. É gostoso acompanhar as aventuras da Cecilia de longe, e torcer por ela. “Bonne chance, Cecilia.”
E não é só isso…
O sentimento ufanista cresce ainda mais com o anúncio de que o filme Ainda Estou Aqui foi indicado a três categorias do Oscar: melhor filme, melhor filme internacional e melhor atriz para Fernanda Torres. A cada nova (merecida) conquista do filme, mais os olhos do mundo se viram para cá, e isso estimula o mercado nacional de cultura, que vira e mexe precisa levantar o braço e acenar para todos, relembrando:
“Ainda estou aqui”.
Querem mais?
A HQ A Sereia da Floresta, do Hiro Kawahara, foi a obra vencedora do prêmio de ouro do 18º International Manga Award, concurso promovido pelo Ministério de Negócios Estrangeiros do Japão.
Aqui vão algumas informações do release:
Em sua 18ª edição, o concurso recebeu 716 inscrições de 95 países e selecionou 15 obras (uma com o prêmio de ouro, três de prata e onze de bronze). Na lista de premiados, o brasileiro Cassio Ribeiro também ganhou destaque com a HQ “Última Chamada para Deixar a Terra”, com o prêmio de bronze.
Essa á a primeira vez que uma obra brasileira recebe o prêmio máximo do concurso. Até então, o Brasil já tinha sido agraciado com o prêmio de prata com a obra Ye (Guilherme Petreca), e o prêmio de bronze com Romaria (Jun Sugiyama e Alexandre Carvalho), Amarelo Seletivo (Ricardo Tayra e Talessak), Reward (Okagawa Kenji), Fujie and Mikito (Yuri Andrey e Marcelo Costa), Ritos de Passagem (Lucas Marques), Pequena Loja de Horrores (Rafaella Ryon) e Holy Avenger (Érica Awano e Marcelo Cassaro).
O vencedor deste ano, Hiro Kawahara, participará da cerimônia oficial de entrega do certificado em Tóquio em março de 2025, incluindo ainda passeios pelo Japão, visitas a editoras de mangás e encontro com quadrinistas japoneses.
E lá vai o Hiro para o Japão conhecer de perto esse enorme mercado de Quadrinhos do qual sabemos tão pouco sobre as dinâmicas editoriais. “Bonne chance, Hiro”, ou, no caso, em japonês: 幸運を.
E em São Paulo…
Minha cidade faz aniversário dia 25. 471 anos. Comemoramos ocupando a cidade e mantendo-a viva. Nesse primeiros dias do ano, já fui ao cinema (vi o ótimo documentário “Luiz Melodia - No coração do Brasil”), comecei outro livro de autor brasileiro (Outono da Carne Estranha, do Airton Souza) e vou no sábado prestigiar o show da Miranda Kassin, só de músicas do Erasmo Carlos, no Bona.
Se eu conseguir, passo na Ria Livraria no começo da tarde do dia 25 pra pegar uma caneca comemorativa exclusiva e ouvir as primeiras bandas que se apresentarão até o final da noite.
Cuidem uns dos outros, com gentileza e curiosidade.
Pa-ZOW!
Fábio Moon
Base Lunar, São Paulo
24 de Janeiro de 2025