Numa tentativa de produzir algo durante o apagão do final de semana passado (que para mim durou um dia inteiro, para o meu pai durou três e, para muitos, ainda dura e periga continuar com a chegada de novos temporais) que pudesse, se não tentar enxergar um lado “positivo” da situação, pelo menos servir de espaço para expor sentimentos, angústias e frustrações que brotam em nós em frente a tudo o que foge do nosso controle, propus uma brincadeira online para que pessoas colocassem frases na camiseta da “Moon Girl” que eu desenhei. A minha frase, motivada por acompanhar meu pai para o hospital e compartilhar com ele a dificuldade de subir e descer oito lances de escada no prédio onde ele mora, era a acima. Abaixo, algumas outras entradas na brincadeira. Participaram nesse apanhado amigos aqui de São Paulo, minha namorada, minha cabeleireira, minha editora francesa e o cartunista americano Terry Moore (criador do Estranhos no Paraíso).
Ficou com vontade de participar? Vá em frente. Você encontra a imagem com a camiseta limpa nesse link. Se as pessoas postarem os desenhos no instagram, no twitter, Facebook ou derivados, me marcarem na publicação ou colocarem o hashtag #moongirlmantra, eu consigo continuar vendo as participações futuras. Eu mesmo, quando tiver vontade, vou aproveitar o modelo (a modelo?) e vou criar novas “estampas”.
a PoeSia salva
Fui até uma livraria aqui de São Paulo na quarta-feira pra ouvir um pouco da história do que foi (e é) o CEP 20.000, evento/performance/enconto poético que acontece no Rio de Janeiro desde os anos 90. Registrei no caderninho de bolso os três participantes principais, mas pessoas na platéia, que passaram pelo CEP ao longo dos anos, também deram depoimentos e leram alguns poemas. O evento serviu para promover o lançamento do livro CEP 20.000 - uma utopia falada, do Vitor Paiva, que conta a história do lugar e dos participantes. Comprei o livro e estou ansioso para ler.
Semana do dia dos professores
O Laboratório de produção de Quadrinhos continua na biblioteca do parque Villa-Lobos. Entre os módulos (de quatro ou cinco aulas) do curso ministrados pelos professores que eu convidei, eu também dou uma aula para os alunos da biblioteca. É meu jeito de tentar alinhavar o conteúdo entre os diferentes professores e direcionar os alunos para o final do curso.
Eu acho importante equilibrar aulas expositivas com as práticas, e tento manter a maior parte da produção durante o tempo da aula pra garantir que os alunos produzam, sabendo que a rotina deles fora da biblioteca pode ter outras prioridades, mas às vezes é inevitável passar “lição de casa”. Não achei que nem metade classe fosse fazer o exercício, pra ser bem sincero, e me surpreendi que quase todo mundo trouxe sua história em quadrinhos de uma página pronta pra gente analisar em aula.
Todas as histórias tinham qualidades. Tinham pontos a melhorar, também. A grande vantagem de ter todos os exemplos em aula era mostrar ao grupo que os erros e acertos que cometemos, que muitas vezes pensamos serem só nossos, são comuns, muitas outras pessoas também fazem o mesmo percurso, tem as mesmas dificuldades, as mesmas dúvidas, e nessa análise coletiva o aprendizado sobre nosso próprio trabalho pode ser maior do que no dia-a-dia do artista que analisa solitariamente (quando analisa) sua própria produção. O processo artístico muitas vezes é intuitivo, e não estamos acostumados a ter que explicar nossas escolhas, nosso processo. Aprender a falar sobre o trabalho, a pensar sobre o trabalho, cria uma base melhor para apoiarmos nossa produção e abre as portas para esse aspecto paralelo da vida de artista: o de palestrante, professor, pensador do trabalho artístico, que tem outras oportunidades para além de simplesmente produzir. O Joca, que deu o módulo sobre escrita no curso, passou o último final de semana em Paraty como convidado da FLIP, dando palestras e participando de conversas. A Fabi Marques nem bem terminou o módulo das cores e partiu para participar da convenção de Nova Iorque, que acontece nesse exato momento em NY.
Refletir sobre o trabalho abre portas dentro de nós e também abre portas ao redor do mundo.
Cuidem uns dos outros, com gentileza e curiosidade.
Pa-ZOW!
Fábio Moon
Base Lunar, São Paulo
18 de Outubro de 2024