Uma das primeiras surpresas do meu aniversário esse ano foi receber, logo cedo pelo Facebook, esse desenho de um amigo meu, arquiteto filósofo, que está morando em Berlin. Recebi a mensagem enquanto tomava meu romântico café da manhã “de aniversário” na cama , e fiquei prestando atenção nos detalhes do desenho e imaginando meu amigo também tomando café e pedindo a cerveja em primeiro plano. As pessoas bebem cerveja de café da manhã na Alemanha, né?
(Talvez o banco com almofada vermelha, logo ao lado da mesinha com a cerveja, esteja vago como um convite, e aquela cerveja seja na verdade pra mim.)
Fugi um pouco da história que estou desenhando nesse dia de aniversário. Fiquei com vontade de desenhar algo que eu pudesse compartilhar por aqui, então acabei rabiscando uma “Moon Girl”. Usei lápis de cor azul pra desenhar, ao invés de grafite, que é mais difícil (às vezes impossível) de apagar, então quando estava desenhando a perna direita da menina e vi que o papel ia acabar e, do jeito que estava, a perna dela ia ficar muito pequena pra caber dentro do papel, abandonei aquele pé sem finalizar e imaginei uma perna mais dobrada que iria mais para baixo do que para o lado.
Relatar esse dilema do desenho faz parte da vontade de dividir não só o desenho final, mas o processo, e essa vontade motivou o filminho que eu fiz e coloquei no Instagram.
Testei um dos pinceis chineses que eu comprei pela internet nessa arte-final. Para desenhos como esse, sem compromisso, funcionou bem, mas não sei se confiaria a esse pincel a responsabilidade de captar um sorriso mais maroto, uma testa franzida, um olhar mais cativante. A tinta secava muito rápido no pincel, e a ponta fina não ficava muito fina, e quando ficava, não era por muito tempo. Talvez o pincel não seja muito bom, ou quem sabe não tenha se dado muito bem com o papel.
Depois de fazer o desenho e editar o vídeo, voltei para minha história. Escaneei seis novas páginas e mandei para o editor. Lentamente, a história anda.
Hoje cheguei ao estúdio e vi o desenho da garota sentada na poltrona parado ali no centro da prancheta e resolvi testar outro dos novos pinceis chineses, o de ponta quadrada, e comecei a preparar umas cores. Aquela suspeita de que o papel possa ter atrapalhado a arte-final foi confirmada na hora da pintura, mas só como teste, pra praticar um pouco e exercitar a mão, não tive grandes problemas nessa etapa. O pincel quadrado foi aprovado.
Cuidem uns dos outros, com gentileza e curiosidade.
Pa-ZOW!
Fábio Moon
Base Lunar, São Paulo
6 de Junho de 2025