Pelas últimas duas semana, sem escrever, preparar ou publicar nenhuma carta por aqui, tentei me concentrar no trabalho. “Escrever uma newsletter sempre vai ser mais fácil do que fazer Quadrinhos” é o ponto que eu e o Bá sempre nos relembramos (ele que fica martelando na minha cabeça, na verdade, mas eu realmente concordo com ele) quando estamos num ponto mais complicado de escrever a história, ou numa página que está dando trabalho pra desenhar do jeito que eu queria. Nesses momentos da produção dos nossos projetos, existe um tempo ligado à frustração do “ainda não está do jeito que eu queria, preciso tentar de novo, preciso recomeçar do zero” que nenhum autor gosta, mesmo que entenda que faz parte to processo. Como vivemos nessa época da satisfação instantânea, da ação e reação na velocidade do clique do celular sempre à sua mão, somos tentados, assim como todo mundo, a procurar aquele caminho mais fácil, mais rápido, mais gostoso. Essa newsletter, mesmo quando bem intencionada ou carregada de conteúdo ou profundidade, caminha por esse lado mais superficial e instantâneo e, na maioria das vezes, preenche um tempo meu que eu deveria estar focando nos Quadrinhos.
A continuidade da newsletter vem dessa minha tentativa de criar algo positivo de um momento de fragilidade.
Esse ano a Rê Bordosa, personagem célebre do cartunista Angeli, completa 40 anos. Fiquei pensando nisso essa semana enquanto lembrava da festa que fui no final de semana de um grupo de amigos que estavam celebrando 40 anos. “Eles nasceram no mesmo ano que a Rê Bordosa”, pensei. O cenário da festa, num prédio no coração do largo da Misericórdia, no centro de São Paulo, parecia também saído do imaginário urbano underground das histórias do Angeli, e eu não me surpreenderia cruzando com a Rê Bordosa na festa, embalada em drinques ou em psicotrópicos, ou com o Bob Cuspe na rua.
O trabalho do Angeli foi fundamental para o Quadrinista que eu sou hoje. Assim como o trabalho da Laerte, seus quadrinhos retratando São Paulo fizeram eu me apaixonar pela cidade como pano de fundo das minhas histórias (como pano de fundo da minha vida). Para além do desenho, acho que o fato dessa geração trabalhar em jornal e ter que fazer quadrinhos, tiras, charges e cartuns desenvolveu um olhar mais reflexivo no trabalho, que estimula o leitor a pensar no que lhe está sendo apresentado. O trabalho é um reflexo do mundo que a gente vive, um reflexo das nossas crenças, dos nossos sentimentos, e crescer em contato com os Quadrinhos do Angeli foi influenciando o que eu achava (acho) importante abordar numa história em Quadrinhos.
Vai ter festa!
Um evento comemorando o impacto e o legado provocador de Angeli e da Rê Bordosa na cultura nacional acontecerá no dia 30 de Novembro, no MIS Experience. Várias atividades acontecerão ao longo do dia, das 16h às 21h, incluindo apresentação da banda Saco de Ratos (com o Mario Bortolotto), da Fernanda D’Umbra, e interpretações de Rê Bordosa por Gracie Gianoukas e Paula Cohen (com direção de Hugo Possolo).
a ressaca…
No dia seguinte, dia 1º de Dezembro, eu e o Bá faremos numa sessão de autógrafos durante a Virada Nerd, que acontece durante todo esse final de semana. A base das atividades da cidade esse ano é o Centro Cultural São Paulo, e é lá que estaremos a partir das 16h. Relembrando os fãs de Quadrinhos, novos e velhos, que este ano eu e o Bá não teremos mesa na CCXP e essa sessão de autógrafos é sua melhor (única) chance de ter algum dos nosso livros assinados e dedicados (com direito a desenhinho, sempre).
Cuidem uns dos outros, com gentileza e curiosidade.
Pa-ZOW!
Fábio Moon
Base Lunar, São Paulo
8 de Novembro de 2024